Em Mateus 5:17-20, Jesus esclarece sua relação com a Lei e os Profetas, um ponto crucial para os judeus de sua época e para os cristãos de hoje. Esse trecho faz parte do Sermão da Montanha, onde Jesus ensina valores e princípios que transcendem a compreensão superficial da Lei, desafiando seus ouvintes a uma vida de maior santidade e compreensão espiritual.
Nesses versículos, Jesus deixa claro que Ele não veio abolir a Lei, mas cumpri-la. Para compreendermos plenamente o significado de suas palavras, é fundamental analisarmos o contexto histórico e cultural, além de entendermos como esse cumprimento se desdobra no ministério e sacrifício de Cristo. Vamos explorar essa passagem versículo por versículo e descobrir o que ela significa para nossa vida cristã hoje.
Explicação Versículo por Versículo
Mateus 5:17 – “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir.”
Aqui, Jesus começa corrigindo um possível mal-entendido. Ele afirma que não veio “destruir” a Lei ou os Profetas, mas sim “cumpri-los”. A palavra “cumprir” indica que Jesus veio realizar, completar e trazer à plena revelação o que a Lei e os Profetas apontavam. Em outras palavras, Ele não veio para desfazer os mandamentos dados por Deus no Antigo Testamento, mas para vivê-los em sua totalidade e revelar seu verdadeiro significado.
Ao mencionar a Lei e os Profetas, Jesus está se referindo a todo o corpo de ensinamentos do Antigo Testamento. Essa declaração mostra que o Novo Testamento não anula o Antigo, mas que Cristo é o cumprimento das promessas e profecias encontradas nele. Paulo explica isso em Romanos 10:4, onde afirma que “Cristo é o fim da lei para a justiça de todo aquele que crê.” Cristo, portanto, é a chave para entendermos a Lei, e através d’Ele, ela é plenamente cumprida.
Mateus 5:18 – “Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido.”
Jesus enfatiza a permanência da Lei até que tudo se cumpra. Um “jota” e um “til” são pequenos sinais na escrita hebraica, e o fato de Jesus mencionar esses detalhes mostra que Ele valoriza cada aspecto da Lei. Isso nos ensina que a Palavra de Deus é precisa e imutável, não sendo alterada ou descartada com o tempo.
O uso de “até que o céu e a terra passem” demonstra a duração da validade da Lei, o que indica que o cumprimento final das promessas de Deus acontecerá quando todas as coisas forem restauradas no fim dos tempos (Apocalipse 21:1-3). Esse versículo nos lembra que as Escrituras são confiáveis e cada uma de suas promessas será cumprida. Ele também ressalta que a justiça e a verdade de Deus são eternas.
Mateus 5:19 – “Qualquer, pois, que violar um destes menores mandamentos, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus.”
Aqui, Jesus adverte sobre a responsabilidade de guardar e ensinar os mandamentos de Deus. Mesmo os “menores” mandamentos têm valor e devem ser obedecidos. Quem desobedece e ensina os outros a fazer o mesmo terá uma posição menor no Reino dos Céus. Isso reflete a importância da obediência total à Palavra de Deus, sem subestimar partes que podem parecer menos importantes.
No entanto, aquele que guarda e ensina os mandamentos será considerado grande no Reino dos Céus. Esse versículo também nos alerta sobre o impacto que nosso exemplo e ensino têm sobre os outros. O próprio Tiago 3:1 adverte sobre a responsabilidade dos mestres, ressaltando que seremos julgados com maior rigor por aquilo que ensinamos.
Mateus 5:20 – “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.”
Esse versículo é um chamado a uma justiça mais profunda. Os escribas e fariseus eram conhecidos por sua estrita observância das leis, mas sua justiça era superficial e muitas vezes legalista. Jesus está chamando seus seguidores para uma justiça que vai além da mera conformidade externa; Ele deseja uma transformação interna que resulta em uma vida verdadeiramente justa.
Jesus ensina que a justiça que Deus requer não é alcançada apenas através de ações externas, mas pelo coração. Como vemos em Mateus 23:27-28, Jesus criticou os fariseus por sua hipocrisia, por parecerem justos por fora, mas estarem cheios de iniquidade por dentro. Para entrar no Reino dos Céus, é necessário um relacionamento genuíno com Deus, onde a justiça flui de um coração regenerado.
Conclusão
O ensino de Jesus em Mateus 5:17-20 nos oferece uma visão clara sobre a relação entre o Antigo e o Novo Testamento. Ele não veio para abolir a Lei, mas para completá-la, revelando seu verdadeiro significado. Com isso, Ele nos chama a uma vida de obediência e justiça que vai além da conformidade externa e toca o coração.
Através de sua vida e sacrifício, Jesus cumpriu as exigências da Lei, mostrando que ela aponta para a santidade de Deus e a necessidade de redenção. Isso não significa que a Lei perde sua importância, mas que seu cumprimento perfeito está em Cristo. Como seguidores de Jesus, somos chamados a viver de acordo com esses princípios, refletindo a justiça do Reino de Deus em nossas vidas diárias.
Essa passagem também nos desafia a considerar a profundidade de nossa própria justiça. Jesus deseja que a nossa justiça seja mais do que atos externos de conformidade religiosa, mas uma expressão autêntica de um coração transformado por Sua graça. Essa justiça interior nos capacita a viver de forma que honra a Deus, sendo exemplos e mestres da verdade que Ele revelou.
Por fim, a advertência de Jesus sobre a justiça que excede a dos escribas e fariseus nos lembra que o Reino de Deus não é para os legalistas ou para os que confiam em suas próprias obras. Ele é para aqueles que colocam sua confiança em Cristo, cuja justiça nos é imputada pela fé, conforme nos ensina Romanos 3:21-22.
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