Estudo Biblíco: 2 Samuel 3:7-21 – A Reconciliação de Davi e Abner: Aliança e Traição

Em meio ao turbulento período de transição após a morte de Saul, o reino de Israel enfrentava divisões profundas. Davi reinava em Hebrom sobre Judá, enquanto Abner, o comandante do exército de Saul, sustentava IsBosete, filho de Saul, como rei em Maanaim. Essa passagem de 2 Samuel 3:7-21 revela tensões pessoais, acusações graves e manobras políticas que culminam em uma tentativa de unificação do reino sob Davi. O texto destaca como Deus usa até conflitos humanos para cumprir Seus propósitos de estabelecer Davi como rei sobre todo Israel.
A narrativa começa com uma acusação que abala a lealdade de Abner, levando a uma ruptura inesperada. Em seguida, vemos negociações astutas, promessas de paz e o retorno de Mical, esposa de Davi, como símbolo de restauração. Esses eventos não são apenas históricos, mas ilustram princípios de fidelidade, perdão e a soberania divina em meio a ambições humanas.
Essa seção prepara o terreno para a consolidação do reinado de Davi, mostrando que a unidade de Israel viria não pela força imediata, mas por alianças estratégicas guiadas pela providência de Deus. Vamos explorar versículo por versículo, entendendo o contexto e as lições espirituais.
A Acusação Contra Abner e Sua Indignação
“E tinha Saul uma concubina, cujo nome era Rispa, filha de Aiá; e disse IsBosete a Abner: Por que entraste à concubina de meu pai?” (2 Samuel 3:7)
Essa acusação de IsBosete contra Abner marca o início de uma crise de confiança. No antigo Oriente Médio, tomar a concubina de um rei falecido era visto como uma reivindicação ao trono, semelhante ao que Absalão faria mais tarde com as concubinas de Davi (2 Samuel 16:21-22). IsBosete, sentindo sua posição ameaçada, questiona diretamente o poderoso comandante, revelando insegurança e dependência.
Abner, que havia sustentado o reino de IsBosete com sua habilidade militar, reage com fúria à ingratidão. Ele se vê como o verdadeiro pilar do trono, tendo protegido a casa de Saul mesmo após derrotas. Essa passagem ecoa a tensão anterior em 2 Samuel 2, onde Abner matou Asahel em batalha (2 Samuel 2:18-23), mostrando que rivalidades antigas ainda ferviam.
A lição aqui é sobre lealdade mal recompensada e o perigo da suspeita infundada. Deus permite que tais rupturas exponham fraquezas, preparando o caminho para Sua escolha de Davi como rei unificador.
“Então Abner se irou muito pelas palavras de IsBosete, e disse: Sou eu cabeça de cão, que pertença a Judá? Ainda hoje uso de beneficência para com a casa de Saul, teu pai, para com seus irmãos, e para com seus amigos, e não te fiz cair nas mãos de Davi, e tu hoje me arguis disto da mulher?” (2 Samuel 3:8)
Abner expressa indignação ao ser tratado como traidor, comparando-se a uma “cabeça de cão” – uma humilhação, pois cães eram vistos como impuros. Ele lembra seus serviços à casa de Saul, contrastando com a acusação mesquinha de IsBosete. Essa defesa revela o orgulho de Abner, mas também sua frustração por sustentar um rei fraco.
Essa reação impulsiva leva Abner a jurar transferência de lealdade para Davi. Veja como ele invoca Deus em seu juramento no versículo seguinte, mostrando que até em momentos de raiva, a providência divina atua. Isso complementa 2 Samuel 3:1, que descreve a casa de Davi se fortalecendo enquanto a de Saul enfraquecia.
Abner representa aqueles que servem por poder, não por verdadeira devoção. Sua virada ilustra como Deus usa ambições humanas para cumprir promessas, como a unção de Davi em 1 Samuel 16.
O Juramento de Abner e a Promessa de Transferir o Reino
“Assim faça Deus a Abner, e outro tanto, se, como o SENHOR jurou a Davi, assim lhe não fizer.” (2 Samuel 3:9)
Abner invoca uma maldição sobre si mesmo se não cumprir o juramento de Deus a Davi. Ele reconhece explicitamente a promessa divina de que Davi reinaria sobre todo Israel (1 Samuel 16:13; 2 Samuel 7:12-16 futuramente). Isso é um momento crucial: o comandante de Saul agora valida a escolha de Deus.
Sua motivação parece misturar reconhecimento divino com vingança pessoal contra IsBosete. No entanto, Deus soberanamente usa isso para unificar o reino. Isso ecoa 2 Samuel 3:18, onde Abner mais tarde cita a promessa de libertação por meio de Davi.
Aqui aprendemos que juramentos solenes devem ser honrados, e que Deus cumpre Suas palavras independentemente das intenções humanas.
“O que é que hei de transferir o reino da casa de Saul, e engrandecer o trono de Davi sobre Israel e sobre Judá, desde Dã até Berseba.” (2 Samuel 3:10)
Abner promete transferir todo o território de Israel – de Dã no norte a Berseba no sul – para Davi. Essa abrangência geográfica enfatiza a unidade nacional que Davi traria, cumprindo a visão de um reino unido.
Ele fala com autoridade, pois controlava as tribos do norte. Isso prepara o cenário para as negociações, mostrando Abner como mediador chave. Complementarmente, em 2 Samuel 5:1-3, as tribos virão a Davi reconhecendo-o como rei.
A promessa destaca a paciência de Davi em esperar pelo tempo de Deus, em vez de forçar a unificação pela guerra.
A Comunicação Secreta e a Exigência de Mical
“E IsBosete não lhe pôde responder palavra, porquanto o temia.” (2 Samuel 3:11)
IsBosete fica em silêncio por medo de Abner, revelando sua fraqueza como líder. Sem o apoio militar de Abner, ele é impotente. Isso contrasta com Davi, que confiava em Deus, não apenas em alianças humanas.
O silêncio de IsBosete acelera o colapso de sua dinastia, ilustrando Provérbios 29:25: o temor do homem arma laços. Sua inação permite que Abner prossiga com seus planos.
Essa fraqueza reforça a tema recorrente: reinos construídos em poder humano desmoronam, enquanto o de Davi prospera pela unção divina.
“Então enviou Abner mensageiros a Davi, de sua parte, dizendo: De quem é a terra? E dizendo mais: Faze aliança comigo, e eis que a minha mão será contigo, para fazer tornar a ti todo o Israel.” (2 Samuel 3:12)
Abner envia mensageiros a Davi propondo aliança, perguntando retoricamente “De quem é a terra?”, implicando que Davi é o legítimo soberano. Ele oferece trazer todo Israel, reconhecendo a superioridade de Davi.
Davi aceita condicionalmente, mostrando sabedoria política. Isso ecoa negociações anteriores, como com os jebuseus em 2 Samuel 5. Abner age rapidamente, motivado por auto-preservação.
A proposta ensina sobre reconciliação: inimigos podem se tornar aliados quando Deus move os corações (Provérbios 21:1).
“E ele disse: Bem, eu farei aliança contigo; porém uma coisa te peço: Não verás a minha face, se primeiro não me trouxeres a Mical, filha de Saul, quando vieres ver a minha face.” (2 Samuel 3:13)
Davi exige o retorno de Mical, sua primeira esposa, dada a ele por Saul (1 Samuel 18:27). Ela havia sido dada a Palti por Saul (1 Samuel 25:44), um ato de rejeição a Davi. Recuperá-la restaura honra pessoal e laços com a casa de Saul.
Essa exigência é estratégica: simboliza continuidade dinástica e legitima o reinado de Davi. Mical representa o passado doloroso, mas seu retorno aponta para cura.
Davi prioriza relacionamentos corretos antes da aliança política, ensinando que reconciliação pessoal é essencial.
A Ordem de Davi e a Obediência de IsBosete
“E enviou Davi mensageiros a IsBosete, filho de Saul, dizendo: Dá-me minha mulher Mical, que eu desposei por cem prepúcios de filisteus.” (2 Samuel 3:14)
Davi lembra o dote pago – cem prepúcios de filisteus, reforçando seu direito legal. Ele comunica diretamente com IsBosete, contornando Abner inicialmente.
Isso humilha IsBosete, forçando-o a desfazer o erro de Saul. Davi age com autoridade régia, preparando sua ascensão.
A exigência destaca a fidelidade de Davi aos compromissos matrimoniais, mesmo em meio a rejeições.
“E IsBosete enviou, e a tomou de seu marido, de Paltiel, filho de Laís.” (2 Samuel 3:15)
IsBosete obedece imediatamente, enviando buscar Mical de Paltiel. Isso mostra o controle residual de IsBosete, mas também sua submissão forçada.
Paltiel segue chorando atrás dela até Baurim (versículo seguinte), revelando afeto genuíno. O ato separa um casamento, ilustrando custos da política real.
Deus permite tais dores para fins maiores, como unificar Israel.
“E seu marido foi com ela, caminhando e chorando atrás dela, até Baurim; então lhe disse Abner: Vai, agora volta. E ele voltou.” (2 Samuel 3:16)
Paltiel chora até Baurim, mas Abner o manda voltar com autoridade. Essa cena patética contrasta com a frieza política de Abner.
Baurim marca uma fronteira, simbolizando o fim de uma era. Paltiel representa inocentes afetados por decisões de líderes.
Isso nos lembra de orar por líderes, pois suas escolhas impactam muitos (1 Timóteo 2:1-2).
As Negociações de Abner com os Anciãos e com Davi
“E Abner falou com os anciãos de Israel, dizendo: Já dantes buscáveis que Davi reinasse sobre vós.” (2 Samuel 3:17)
Abner convence os anciãos, lembrando que eles já desejavam Davi como rei anteriormente, talvez após vitórias contra filisteus.
Ele apela à história compartilhada, posicionando-se como facilitador. Isso ecoa 1 Crônicas 12:23-40, onde tribos se unem a Davi.
Abner usa retórica para alinhar o passado com o presente, mostrando sabedoria em persuasão.
“Fazei-o, pois, agora; porque o SENHOR falou de Davi, dizendo: Pela mão de Davi meu servo livrarei o meu povo Israel da mão dos filisteus e da mão de todos os seus inimigos.” (2 Samuel 3:18)
Abner cita a promessa de Deus: Davi livraria Israel dos inimigos, como filisteus. Isso valida teologicamente a transferência, citando profecias.
Os anciãos são persuadidos pela Palavra de Deus, não apenas por política. Isso reforça que o reinado de Davi era divino.
Líderes devem basear decisões em promessas bíblicas, não em conveniências.
“E falou Abner também a Benjamim; e foi Abner também para falar com Davi em Hebrom a tudo quanto parecia bem aos olhos de Israel e de toda a casa de Benjamim.” (2 Samuel 3:19)
Abner fala especificamente com Benjamim, tribo de Saul, para ganhar apoio local. Depois, vai pessoalmente a Hebrom relatar o consenso.
Ele assegura unidade tribal, essencial para paz. Davi recebe em Hebrom, sua capital em Judá.
Isso mostra diplomacia cuidadosa, abrangendo todas as partes.
“Veio, pois, Abner a Davi, em Hebrom, e vinte homens com ele; e Davi fez um banquete a Abner e aos homens que com ele haviam.” (2 Samuel 3:20)
Abner chega com vinte representantes, e Davi oferece banquete – sinal de hospitalidade e aceitação. Isso sela a aliança em clima festivo.
O banquete simboliza comunhão, como em Gênesis 31:54 com Jacó e Labão. Davi demonstra generosidade a ex-inimigos.
Reconciliação envolve celebração mútua, refletindo o banquete do Reino de Deus.
“Então disse Abner a Davi: Eu me levantarei, e irei, e ajuntarei a meu senhor o rei todo o Israel, e farão aliança contigo, e reinarás sobre tudo o que desejar a tua alma. E Davi despediu a Abner, e ele se foi em paz.” (2 Samuel 3:21)
Abner promete ajuntar todo Israel para aliança formal com Davi, que reinaria sobre tudo. Davi o despede em paz, confiando na promessa.
Isso culmina na visão de unidade, mas a tragédia virá em seguida com Joabe (2 Samuel 3:27). Ainda assim, marca progresso divino.
Abner parte motivado, mas Deus controla o resultado final.
Conclusão: Lições de Aliança, Traição e Soberania Divina
Essa passagem nos ensina que reconciliações humanas são frágeis, dependentes da fidelidade a Deus. Abner busca paz por motivos mistos, mas Davi age com sabedoria, priorizando honra e promessas divinas. Vemos como acusações podem romper alianças antigas, abrindo portas para novas, sempre sob o controle soberano do Senhor.
Embora a traição de Joabe interrompa o plano imediato, Deus cumpre Sua palavra: Davi se torna rei sobre todo Israel (2 Samuel 5:1-5). Isso nos encoraja a confiar que Deus usa até falhas humanas – orgulho, medo, ambição – para estabelecer Seu reino. Não forcemos união pela manipulação, mas esperemos pelo tempo de Deus.
Aplicando hoje, busquemos reconciliação em relacionamentos quebrados, exigindo restauração justa como Davi com Mical. Perdoemos, mas com discernimento. Que nossa lealdade seja a Cristo, o Rei Davídico maior, que une povos em Seu reino eterno.
Essa narrativa aponta para Jesus, descendente de Davi, que reconcilia inimigos de Deus pela cruz (Efésios 2:14-16). Em meio a divisões, confiemos que Ele ajunta Seu povo em paz verdadeira.
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Written by : meditacaocomdeus.com
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