O Sermão da Montanha, registrado em Mateus 5, é um dos discursos mais profundos e transformadores de Jesus, no qual Ele expande a compreensão das leis morais e espirituais de Deus. Nos versículos 27 a 32, Jesus aborda o tema da pureza no relacionamento e da importância da fidelidade, indo além da obediência externa à Lei para focar na intenção do coração. Ao falar sobre o adultério e o divórcio, Ele revela que a santidade começa nos pensamentos e intenções e não apenas nas ações.
Esses versículos confrontam os leitores a um exame profundo de si mesmos. Jesus nos ensina que a prática da verdadeira pureza envolve lutar contra o pecado ainda em sua raiz, impedindo que ele cresça e se manifeste. Ao nos chamar para uma vida de integridade interna, Ele não apenas eleva os padrões morais, mas oferece um caminho para o arrependimento, restauração e santidade.
Explicação Versículo por Versículo
Mateus 5:27
“Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério.”
Jesus começa com uma referência direta aos Dez Mandamentos, especificamente ao sétimo mandamento, que proíbe o adultério (Êxodo 20:14). Na cultura judaica da época, o adultério era visto como uma transgressão física grave, especialmente na esfera do casamento. Esse mandamento era muito respeitado e sua violação, severamente punida. Jesus, ao começar com essa citação, evoca um princípio moral bem conhecido, mas não se limita a ele. Ao mencionar “foi dito aos antigos”, Jesus está indicando que, embora a Lei proibisse o adultério físico, Ele está prestes a ensinar algo mais profundo sobre o coração humano e o pecado.
Mateus 5:28
“Eu, porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.”
Aqui, Jesus expande o entendimento do mandamento, revelando que o pecado do adultério começa no coração, com a cobiça. A palavra “atentar” refere-se ao ato de olhar com desejo, permitindo que a luxúria invada os pensamentos. Esse versículo nos ensina que, embora o ato físico do adultério seja um pecado, a intenção pecaminosa no coração já é condenável diante de Deus (Tiago 1:14-15). Essa verdade mostra que Deus se importa com a pureza interna e não apenas com comportamentos exteriores. Jesus convida seus seguidores a cultivar um coração puro, evitando que o desejo carnal se transforme em pensamentos pecaminosos. A visão de Jesus nos lembra que a batalha contra o pecado começa nos pensamentos e nas intenções.
Mateus 5:29
“Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é melhor que um dos teus membros se perca do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.”
Jesus usa uma linguagem figurativa intensa para enfatizar a seriedade do pecado. Aqui, “olho direito” e “mão direita” representam partes importantes do corpo, usadas para ilustrar a necessidade de sacrificar qualquer coisa que nos leve ao pecado. Ele não está encorajando literalmente a automutilação, mas sim a atitude radical que devemos ter em relação ao pecado. Em Colossenses 3:5, Paulo instrui os cristãos a “mortificar” (ou eliminar) os desejos pecaminosos que levam ao pecado. Essa atitude radical é um chamado à santidade e demonstra que, para Jesus, a pureza é fundamental, mesmo que exija sacrifícios pessoais.
Mateus 5:30
“E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti; pois te é melhor que um dos teus membros se perca do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.”
Jesus repete a ideia do versículo anterior, agora usando a mão direita. Ele reforça que, em nossa luta pela santidade, devemos estar dispostos a renunciar a qualquer coisa que nos leve ao pecado, mesmo que seja algo importante em nossas vidas. A imagem da mão direita simboliza o que temos de valioso, e a instrução de “cortá-la” mostra o compromisso que devemos ter em evitar o pecado. Esse versículo também ressalta a seriedade das consequências eternas do pecado. Jesus nos adverte que o pecado não confrontado pode nos afastar de Deus e nos levar à condenação. A mensagem é clara: viver em santidade exige decisões radicais para preservar a alma.
Mateus 5:31
“Também foi dito: Qualquer que deixar sua mulher, dê-lhe carta de desquite.”
Jesus faz referência a Deuteronômio 24:1, onde Moisés permite o divórcio mediante a entrega de uma carta de divórcio. Essa prática era comum na época, mas havia divergências entre os rabinos sobre o que constituía uma razão legítima para o divórcio. Enquanto alguns defendiam o divórcio apenas em casos graves de adultério, outros permitiam por razões triviais. Jesus, ao mencionar isso, está prestes a estabelecer um entendimento mais profundo e divino sobre o casamento e a fidelidade, destacando a santidade do matrimônio e a importância de preservar o vínculo matrimonial sempre que possível.
Mateus 5:32
“Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério; e qualquer que casar com a repudiada comete adultério.”
Aqui, Jesus oferece uma visão contra-cultural para a época, afirmando que o divórcio não deve ser algo comum. Ele permite o divórcio apenas em casos de imoralidade sexual (prostituição), mas deixa claro que o casamento é uma aliança sagrada. Jesus enfatiza que o divórcio e o novo casamento fora dessa exceção é visto como adultério, pois quebra a unidade estabelecida por Deus (Mateus 19:6). Jesus destaca a gravidade do casamento e a responsabilidade de manter a fidelidade, apontando que o divórcio sem razões bíblicas desagrada a Deus.
Conclusão
Jesus nos desafia a sermos inteiramente puros, pois a verdadeira obediência começa no coração e se reflete nas ações. Ele revela que o pecado, embora às vezes invisível aos olhos humanos, é completamente conhecido por Deus. Essa perspectiva nos leva a um profundo exame de nossos pensamentos e intenções. Em um mundo onde a moralidade é frequentemente relativizada, Jesus chama os seus seguidores a um padrão mais alto.
Ao falar sobre o adultério e o divórcio, Jesus reforça a importância da pureza e da fidelidade nos relacionamentos. Suas palavras nos mostram que o verdadeiro compromisso não é apenas evitar comportamentos externos, mas eliminar toda raiz de pecado dentro de nós. A luta contra o pecado é constante, e a vigilância sobre os pensamentos é essencial para viver uma vida santa.
Além disso, Jesus nos mostra que devemos tratar o casamento como uma aliança sagrada, não como um contrato temporário. Ele nos ensina a honrar o compromisso matrimonial e buscar reconciliação e restauração sempre que possível. A fidelidade é uma expressão de nossa dedicação a Deus e ao cônjuge.
Por fim, o chamado de Jesus para uma vida de santidade e pureza nos desafia a ir além da superfície e buscar um relacionamento sincero com Deus. Ele nos lembra que, ao rejeitar o pecado em todas as suas formas, nos aproximamos mais do propósito de Deus para nossas vidas. A pureza de coração e a fidelidade aos princípios de Deus são fundamentais para uma vida plena e abençoada.
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